Ressaca Esportiva - O Homem Ganso

Pra você que ta chegando agora, ainda de ressaca pelo fim de semana, cheio de sono, ou preocupado porque não estudou pra prova de logo mais, não se preocupe. Puxa uma cadeira, pede mais uma gelada e seja bem vindo. Porque aqui, toda hora é hora.

Quando me propus a escrever esta coluna, eu já sabia que o “super fantástico” time dos Meninos da Vila seria o assunto dela. Também que o Santo André não seria massacrado, vítima do ataque dos 100 gols, como não foi em nenhum dos 2 jogos da final. Mas nunca, em nenhum dos meus pitacos mais ambiciosos, poderia imaginar que valeria tão a pena passar essas duas tardes de domingo vendo a decisão do Campeonato Paulista. Mas valeu.

Não pela “genialidade” de Neymar, que de impressionante só tem a mistura incomum de talento e frieza frente ao gol. Não pelas pedaladas do Robinho, que atualmente é apenas um bom jogador. E não, como muitos pregaram, pela esperança de ver um time que se comparasse ao Santos de Pelé – esse sim um time mágico e genial.

Por incrível que pareça, valeu mesmo ver o Santo André jogar contra o Santos. Um time ofensivo, técnico, e extremamente bem organizado pelo Sérgio Soares. Afinal, meter 10 nos Naviraienses e Jundiaís da vida, é obrigação – que muitos grandes não cumprem, tudo bem, mas daí à genialidade, pára, né! Diferente desses, o Santo André não era baba. E mesmo ficando sem o título, calou milhares de corneteiros, tanto amadores como profissionais da imprensa. Jogou de igual pra igual com a molecada da Vila, atacando o Santos o tempo inteiro, com uma marcação dura, com velocidade, com trocas de passes envolventes, e com o talento de Bruno César e Branquinho, duas gratas surpresas do vice-campeão paulista. E poderia ter conquistado seu primeiro Paulistão não fosse outra grata surpresa: Paulo Henrique Ganso.

Quem acompanhou a Seleção Brasileira Sub-20 no Egito, sabe do que estou falando. Meia talentoso, Ganso desapareceu em algumas partidas daquele Mundial, me dando a impressão de ser mais um Alex, igualmente talentoso e sonolento. Engano meu. Ou surpresa minha. Porque ontem, Ganso jogou demais. Do passe de letra de costas pra Neymar no segundo gol do Santos até a coragem de se negar a sair quando informado de que seria substituído no final do jogo, Ganso foi o homem da partida. E é aí que está o detalhe que fez do badalado Santos um time campeão. Quando os Meninos da Vila foram surpreendidos, pressionados e acuados pelo time do ABC, obrigados a jogar com 8 jogadores depois das expulsões de Léo, Marquinhos e Roberto Brum, não foi um menino quem decidiu o campeonato. Foi um homem. Um jogador que mostrou maturidade ao prender a bola no campo de ataque, personalidade ao bater uma falta quase do meio-campo que por pouco não encobriu o arqueiro do ABC, e criatividade ao cobrar um escanteio curto pra ninguém e esperar que os jogadores do Santo André viessem atrás da bola.

E se futebol é pra homem, como se diz no jargão dos campos de pelada, num jogo de santos, mágicos e gênios, quem salvou o dia foi apenas um homem. O homem Ganso.