segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Ressaca Esportiva - Adeus Maracanã!

Se você chegou agora, seja bem vindo. Mas se entrou aqui há alguns minutos, deve ter estranhado que a coluna mudou. Eu passei a manhã toda escrevendo sobre o término do 1º turno do Brasileirão, analisando os favoritos ao título, à surpresa e ao rebaixamento. Mas quando saí pra fumar, me bateu um sentimento estranho, uma saudade enorme de alguma coisa. Então, liguei a TV e... Lá estava o adeus ao Maracanã.

Adeus pode ser uma palavra muito forte pra você, mas a reforma para a Copa de 2014 será tamanha que, apesar de parte da estrutura e do nome, pouco há de ficar do atual Estádio Jornalista Mário Filho. E aí bateu aquela saudade!

Eu não sei você, mas eu cresci com Ele, o Maracanã. Ele, assim, com inicial maiúscula, de quem é gigante, imensurável e infinito, que era como eu o via quando criança e o vi, de dentro, pela primeira vez, provavelmente com 4 ou 5 anos, segundo meu pai contava. Confesso que minhas lembranças dessa época são poucas. Lembro, claro, da multidão de um tempo onde mais 100 mil pessoas se misturavam, em pé sobre o concreto, num mesmo sorriso ou numa mesma lágrima, como se mais nada no mundo houvesse se não aqueles 22 guerreiros, desarmados, tendo "em punho" apenas seus corações e seu talento.

Sou um homem de muita sorte por ter visto, daquelas arquibancadas, a Seleção Brasileira de Zico, Sócrates, Reinaldo, Cerezo, Falcão, Leandro, Júnior, Edinho, Oscar & Cia num jogo contra o Paraguai de Romerito. Poderia certamente procurar a ficha deste jogo agora na net, mas prefiro ficar com as minhas lembranças de criança. Das histórias que meu pai contava de quando perguntei se alguém estava passando mal quando o estádio inteiro entoou os gritos de "Doutor! Doutor! Doutor!", ou do porque parte da torcida do Brasil gritava eufórica o nome de um jogador do adversário. Salvo nesses anos da infância, nunca mais fui com meu pai ao Maracanã. E nunca mais irei.

É engraçado dizer isso, mas só depois veio o Flamengo. Não como time, como paixão. A primeira vez no Maracanã, para qualquer Rubro-Negro, é como perder a vingindade. Só que mais emocionante. É indescritível, inenarrável, a sensação de que você não faz parte apenas de uma torcida, de um grupo de pessoas com algo incomum, mas sim de uma Nação. Conheço inúmeras histórias de torcedores de outros times, inclusive do Rio, que se arrepiaram quando foram pela primeira vez ao Maracanã na torcida do Mengão. Não é desrespeito nem traição, é mágico mesmo! Uma emoção que eu jamais vou esquecer e que indico a qualquer um que visite o Rio de Janeiro, assim como ver o pôr-do-sol no Arpoador, dar um passeio pelos bondes do Pão-de-Açúcar e Santa Teresa, e a famosa ida ao Cristo Redentor. Só quem já sentiu sabe o que é.

Depois de mais velho, fui menos vezes ao Maracanã. As idas foram diminuindo conforme cresceu a violência, o preço exorbitante dos ingressos e a falta de consideração dos dirigentes com o torcedor. Não vi grandes conquistas dentro do Maracanã, mas vi grandes jogos e grandes campeonatos - às vezes campeonatos inteiros, exceto a final. Coisa de maluco, eu sei, mas não me arrependo. Não pela conquista. Só pelo Maracanã. Aprendi a gostar tanto da cerimônia solene que é "A Ida ao Maracanã", que já fui até ver jogos de outros times. Já sentei na torcida do Fluminense e do Vasco, sem problemas, só pelo Maraca. Poucas cenas se comparam à beleza do estádio lotado, num fim de tarde de domingo, a auréola sobre os anéis superiores, e a emoção da partida. Vale por si só. Seja qual o for o resultado, o time ou o campeonato. Se você nunca foi, sorte a sua.

Porque você será o único a não entender porque tantos corações se apertarão durante os próximos 3 anos; o único a não acordar triste num domingo de sol em que seu time vai jogar no Rio; a não se sentir meio vazio quando for a qualquer outro estádio; e, até pela TV, achar que está faltando alguma coisa quando vir seu time jogar...

Sorte nossa, cariocas, saudosistas e amantes do bom futebol, que não há tristeza que dure para sempre. Sorte dos que ainda irão ao Maracanã pela primeira vez e verão a Seleção de Ganso, Neymar, Pato, Thiago Silva, Júlio César, Kaká & Cia, e talvez tenham a mesma sensação que tive no estádio vendo a Seleção pela primeira vez. É, a espera será longa... Tanto e tão dolorosa quanto um jejum de títulos. Mas continuaremos aqui, para sempre fiéis, pacientes e apaixonados, até que você abra seus portões novamente para nós. Até breve, Maracanã!

Um comentário:

  1. Pena que nunca mais será o mesmo, e que a cada reforma foram matando ele ao poucos. agora recebeu o tiro de misericordia. acho que em sinal de respeito deveria mudar até de nome.
    Adeus Maraca. *1950 +2010.

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